Letra de 'Solange Emergente' de Bonde das Filomena

Solange moça simples
Vive na periferia
Sem uma casa própria
Mora de favor com a tia

Faxina todo dia
Desde as sete da manhã
Pra reforçar o orçamento
Vende meia e surtian

Não vai dar, não vai dar
Esse mês não vai dar não
A ceia de natal vai ser bolacha e pão
Não vai dar, não vai dar
Esse mês to esgotado
Se quiser ovo de páscoa é chocolate hidrogenado

Solange tem um caso
Com o Pedro do Buzão
E o espera todo dia
Na saída da estação

O Pedro dá pro gasto
Mas transpira cachaça
O melhor de dar pra ele
É pegar o buzão de graça

Não vai dar, não vai dar
Não importa o que eu faça
Se quiser pagodear vai ser na sala de casa
Não vai dar, não vai dar
A pobreza aqui reage
Se quiser pegá um bronze
Põe biquíni e vai pra lage

Mas Solange tem um plano
Pra acabar com a agonia
Mais de mês juntando grana
Pra comprar sua alforria

Solange toma cuidado
Você vai se arriscar
Com essa história de vender
Pinga na porta do A.A.

Não vai dar, não vai dar
Não tenho nada a perder
É um trabalho honesto ninguém pode me prender
Não vai dar, não vai dar
Pára de gorá o fubá
Quando eu ficar bem rica, você vai me admirar

E Solange fez sucesso
Com essa idéia demente
Hoje em dia ela é famosa
A "Rainha da Aguardente"

Mudou pra Zona Sul
E conheceu muita gente
Fez amigos que freqüentam
O circuito emergente

Sai pra lá, sai pra lá
Eu não dou esmola não
Ce devia trabaiá, muleque sem ambição
Não vai dar, não vai dar
Eu não tenho tia não
E nenhuma ligação com esse Pedro do Buzão